Paraíba luta pela preservação de seu patrimônio moderno

Conhecida por suas obras de arquitetura barroca, presente principalmente em suas antigas igrejas, João Pessoa também possui obras urbanísticas de outras escolas, outros movimentos. As obras modernas estão presentes e marcam um tempo em que, seguindo o movimento nacional que tem como maior exemplo a construção de Brasília, muitas cidades de Brasil resolveram se "modernizar".

João Pessoa, Campina Grande, Patos e outras cidades paraibanas aderiram também ao movimento e têm importantes e peculiares construções feitas seguindo os conceitos deste movimento, que são a simplicidade, a funcionalidade e a ausência de ornamentação. Entre os anos 60 e 70, muitas foram as obras públicas que seguiram estes conceitos.

Na capital temos alguns "cartões postais" que foram construídos na época e que são ótimos representantes do movimento moderno até hoje: o Hotel Tambaú, o Lyceu Paraibano, o Espaço Cultural e o prédio sede do INSS, isso citando apenas obras públicas, já que muitas famílias tradicionais também construíram casarões que se tornaram ícones do movimento.

E se alguém acha que o movimento moderno tem exemplos de 40, 50 anos atrás está enganado. A Estação Ciência Cabo Branco construída nos últimos anos é, talvez, uma das mais recentes obras públicas modernas do Estado e que foi desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o mais famoso representante deste movimento.

Para discutir o reconhecimento, a preservação e intervenção em obras modernas, o 3º Seminário Docomomo Norte-Nordeste, reunirá arquitetos, alunos e pesquisadores destas regiões no Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, nos próximos dias 26, 27, 28 e 29. Palestras, mesas redondas, sessões temáticas de apresentação oral de trabalhos e apresentação contínua de painéis eletrônicos fazem parte da programação.

É esperada a participação de cerca de 250 pessoas. A abertura acontecerá na Estação Ciência, Cultura e Artes Cabo Branco, onde também acontecerá a palestra do professor Fernando Álvarez, da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona, ETSAB/UPC.

Entre as discussões está o desejo de que seja criada uma lei que proteja obras modernas. "Muitas construções são demolidas ou descaracterizadas por reformas, já que não há uma cultura de preservação e valorização das construções deste movimento, como de obras do estilo barroco, por exemplo", explicou o pesquisador e professor de arquitetura Fabiano Rocha.

Ele falou ainda da dificuldade de encontrar e catalogar obras modernas na Paraíba. "Algumas construções importantes não existem mais, outras foram modificadas e os registros das prefeituras guardam os projetos originais, sem fotos, por apenas dez anos. Depois é tudo incinerado. Por isso é importante que estes projetos sejam guardados por laboratórios de pesquisa como o do Centro de Tecnologia da UFPB", concluiu o pesquisador.

Segundo a professora Nelci Tinem, que coordena o evento, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) se articula para tratar a Arquitetura Moderna Brasileira como patrimônio a ser protegido, formando um grupo de trabalho nacional com a missão de discutir a constituição desse acervo. Cresce, portanto, a importância dos quadros formados nos seminários Docomomo.

"Tanto na elaboração do projeto que deu origem ao grupo, como nas comissões regionais ou nos inventários sobre arquitetura moderna estão os estudiosos que têm no Docomomo seu fórum privilegiado de discussão", explicou. E disse ainda que as discussões sobre a produção de Arquitetura Moderna Brasileira têm, basicamente, tentando responder a três questionamentos: porque preservar, o que preservar e como preservar. Sendo que atualmente a maior preocupação já está com a última questão.

Momotur - um passeio pelas obras modernas da Paraíba

O Docomomo, que contará com pesquisadores de todo o Norte e Nordeste, também apresentará um guia de obras e monumentos modernos presentes na Paraíba. Uma pequena mostra de 30 obras em João Pessoa e 20 em Campina Grande dentre o acervo pesquisado, será apresentada no guia. Com base nestas informações, o tradicional Momotur levará os participantes do evento para conhecer algumas dessas obras em João Pessoa, no sábado (29), e em Campina Grande, no domingo (30).

Entre as obras modernas mais conhecidas da capital podem ser citadas, além da Estação Ciência de Oscar Niemeyer, o Hotel Tambaú e o Espaço Cultural, ambas do arquiteto Sérgio Bernardes. Já em Campina Grande, o Teatro Severino Cabral, de Geraldino Pereira Duda, e o parque do Açude Novo e o Museu Assis Chateaubriand, de Renato Azevedo.

O lançamento do guia, fruto do Laboratório de Pesquisa, Projeto e Memória da Universidade Federal da Paraíba, assim como um passeio pelas obras, são parte do evento que reunirá arquitetos do Norte/Nordeste para discutir o reconhecimento, a preservação e intervenção em obras modernas presentes nestas regiões. Palestras, mesas redondas, sessões temáticas de apresentação oral de trabalhos e apresentação contínua de painéis eletrônicos também fazem parte da programação.

O que é

O DOCOMOMO é uma organização não-governamental, com representação em mais de quarenta países. Foi fundada em 1988, na cidade de Eindhoven na Holanda. É uma instituição sem fins lucrativos e está sediada atualmente em Barcelona, na Fundació Mies van der Rohe, e é um organismo assessor do World Heritage Center da UNESCO. Os objetivos do DOCOMOMO são a documentação e a preservação das criações do Movimento Moderno na arquitetura, urbanismo e manifestações afins.

Arquitetura Moderna

Este movimento arquitetônico e urbanístico tem como suas principais características a ausência de ornamentos e a funcionalidade. Assim, obras modernas têm seu desenho definido por sua função.

Os enfeites e ornamentos utilizados e que marcavam estilos e escolas anteriores, no Movimento Moderno desaparecem e passam a ser considerados supérfluos.

As ideias de industrialização moldaram os projetos modernos dando aos prédios estruturas limpas, econômicas e úteis. Com conforto de temperatura e de luz para garantir uma correta e justa construção do ambiente a ser habitado pelo homem.

Por conta disso, o concreto armado, paredes brancas e vãos livres foram e são muito usadas nas construções modernas. Também estão muito presentes grandes vidraças e estruturas de ferro.

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